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Ciência Cognitiva - http://sites.uol.com.br/luzardo

> Cara Lista, Caro Sergio,
> Estava lendo a ultima mensagem do Sergio onde ele cita um trecho de outra
> mensagem que diz:
> >> Aqui acho que você tocou em um outro ponto importante. É uma distinção
> >> bastante válida que temos que fazer: o cérebro é como um computador ou
> >> o cérebro pode ser *simulado* em um computador?
> >

>
> Ora, dizer que o cerebro e como um computador e uma coisa que certamente
> horrorizaria uma pessoa como o John Searle. Mas eu tenho duvidas - num
> caminho diferente daquele do Searle - se o cerebro pode ser simulado em um
> computador. Interessante que mesmo pessoas como os Churchlands, partidarios
> de um materialismo de linha dura (o materialismo eliminativo) observam que
> o numero de sinapses e conexoes existentes no cerebro igualam-se ao numero
> de particulas existentes no universo - um numero realmente inimaginavel.
> Construir um programa de computador que simulasse esse numero absurdo,
> certamente levaria a producao de um algoritmo que levaria alguns trilhoes
> de anos para ser rodado, um tipico problema NP. E seria possivel entao
> fazer isto? Talvez seja possivel, mas teriamos condicoes de esperar alguns
> trilhoes de anos para que se obtivesse entao o resultado?
> Acho que o maior problema que se enfrenta neste terreno e a excessiva
> complexidade do cerebro....

Prof. João, lista,

Concordo que a idéia de encarar o cérebro como um computador (do tipo
que nós comumente usamos) é muito estranha e a imagem de simularmos
o que ocorre no cérebro em nível sináptico (embora possível "em
princípio", pois temos "poucas" moléculas em nosso cérebro comparado
com o restante do universo) é inviável. Mais inviável ainda é
simularmos *um* determinado cérebro (o meu ou o seu, por exemplo),
pois isso implicaria em conhecer quanticamente o estado de cada
molécula. Isso considero praticamente impossível (detesto usar
essa palavra...).

Mas a questão de considerar o cérebro como um computador, no sentido
*mais geral* da palavra, pode ser talvez razoável. Um "computador" é
uma entidade que processa informações, sem ser preciso especificar
se de forma digital, analógica ou híbrida. Uma célula pode ser
considerada como um computador (cf. Lowenstein). A evolução de um
animal por seleção darwiniana pode ser considerada como uma
computação (está-se computando o melhor código genético para
sobreviver no ambiente).

Não vejo como deixar de encarar o cérebro como uma máquina
pertencente a essa categoria mais ampla. Se ela pertence a essa
categoria, então eu aposto que um dia poderemos executar o mesmo
tipo de computação que ela faz em uma máquina digital, usando
princípios físicos de funcionamento totalmente diferentes.

> Afora isto, coloca-se aqui um problema teorico, conceitual, de grande
> importancia: o que e uma simulacao? Usa-se esta palavra indiscriminadamente
> na Ciencia Cognitiva, mas o que significa realmente a palavra "simulacao"?
> O que pode ser considerado uma simulacao?

Esse ponto é importante e arrisco algumas idéias. Uma simulação de
um tornado em um computador (embora complexa em termos informacionais)
*não é* representativa da coisa real (ninguém vai perder o telhado
da casa por causa da simulação...). A mesma coisa com a simulação
de uma fogueira.

Entretanto, a simulação de uma operação aritmética usando um sistema
de vasos comunicantes com líquidos indo de lá para cá, é a coisa
real: uma representação das manipulações informacionais da operação
aritmética. Então, se o cérebro pode ser visto como um processador
de informação, acho que não há nada que nos impeça de executar o
mesmo tipo de operação informacional com tecnologia totalmente
diferente. Resta saber *o que é* que o cérebro faz com a informação
a que está sujeito. Esse é, na minha opinião, o problema fundamental
que temos que resolver. Para isso, devemos sim conhecer neurociência,
mas apenas para entender o que está sendo feito com a informação.
Uma vez conhecido isso, podemos pensar em simular essas operações
usando outra tecnologia, seja um computador digital ou um sistema
de vasos comunicantes.

Até mais,
Sergio Navega.

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