Mensagem do Grupo de Discussão Ciência Cognitiva

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Ciência Cognitiva - http://sites.uol.com.br/luzardo

From: André Luzardo <luzardo@uol.com.br>
>Caro Sergio,
>
>Você escreveu:
>
>> Eu diria que a última palavra está sendo
>> proferida pelos que estão revendo alguns dos "dogmas recentes" da
>> CogSci, em especial a questão do "conhecimento nativo" em domínios
>> específicos, como linguagem.
>>
>> Isto é obra dos conexionistas (Elman, Bates, McClelland, Seidenberg,
>> etc) que fazem uma análise mais neurocientífica do problema e não
>> encontram evidências suficientes para suportar o pensamento nativista
>> de Chomsky e Fodor. A argumentação deles (dos anti-nativistas) faz mais
>> sentido para mim do que a de Chomsky/Fodor/Pinker. Mas sei que isto é
>> um "can of worms" que uma vez aberto é difícil de fechar.
>
>    Como você suporta o pensamento inativista, especialmente para a
>linguagem? Pergunto por que acho estranho essa "volta" ao inativismo na
>linguagem, agora que se acumularam tantas evidências de uma estrutura
>universal da lingua humana. Claro que nessa questão podemos identificar dois
>tipos de bagagem hereditária: a bagagem estrutural e a bagagem conceitual.
>Herdar o mecanismo responsável pela linguagem não é o mesmo que herdar a
>linguagem. Exatamente que tipo de inativismo você defende? E para quais
>processos?
>

Caro André,

O nativismo é realmente a corrente predominante atualmente. Mesmo assim,
não tenho razões para concordar com esse pensamento.

Você falou em duas bagagens hereditárias. Vou usar sua terminologia
com algumas alterações. Falo em bagagem hereditária aquilo que provém
da combinação genética dos pais mais eventuais mutações (randômicas)
nos genes, ambas necessárias para que a seleção natural possa
atuar eficientemente. A isto chamamos de genótipo.

Falo em bagagem "ecológica" (na falta de um nome melhor) para
designar alterações que o organismo sofre durante toda sua vida
por conta de influências do meio ambiente. Ao resultado final da
ação do meio ambiente sobre o genótipo chamamos de fenótipo.

A tese dos nativistas é de que a linguagem tem origem essencialmente
genotípica, enquanto que a tese dos inativistas (nos quais me incluo)
fala em origem fenotípica (ou seja, parte nos genes parte no
meio ambiente). Quem está certo?

Não basta dizer que há uma estrutura universal, comum a todas as
linguagens humanas. Isto não prova que essa capacidade esteja
inscrita explicitamente nos genes, só mostra que todos (quando
avançam de bebês a adultos) a adquirem. Há várias capacidades
cognitivas que são universais e que não são originárias de
expressão genética direta e específica. São, sim, resultados
de influências de experiências sobre mecanismos genéricos,
auto-organizáveis e plásticos.

Apenas como exemplo, o circuito neural responsável pelo
processamento de visão passa por uma fase de maturação que é
dependente de experiência (isto é chamado de "orientation
dominance column maturation"). Em artigo recente (veja ref [1])
foi demonstrado quanto da visão é dependente de experiência.

Se visão depende de experiência, que dizer da linguagem?
Há dezenas de referências como essas e várias vão contra os
postulados do nativismo. É hora de rever as implicações de
"language organs".

Refs.
[1] Crair, Michael C. (et al.) (1998) The role of visual
experience in the development of columns in cat visual cortex.
Science 279, 23 Jan 1998.

Sergio Navega
http://www.intelliwise.com/snavega


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