Mensagem do Grupo de Discussão Ciência Cognitiva

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Ciência Cognitiva - http://sites.uol.com.br/luzardo

Fernando Bastos e André Luzardo,

Cumprimento os dois por estarem firmes em suas convicções.
Não tinha idéia de que os cursos de Psicologia brasileiros
fossem tão arcaicos (só suspeitava...)

Gostaria, de alguma forma, de incentivá-los a continuar com
esse pensamentos. As coisas só mudarão se houverem mais pessoas
como vocês. O grupo de estudo do Fernando, em particular, deve
ser incentivado a manter seus esforços, mesmo que sejam
considerados "desertores" pelos professores. Uma sugestão seria
convidar esses professores (é óbvio que não aceitarão) para
virem debater as coisas aqui nesta lista. Isto daria tempo para
que cada um pensasse em respostas pertinentes (sem os
constrangimentos de um debate ao vivo) e poderia ser instrutivo
para todos.

Acredito que grande parte do problema da Psicologia vem do fato
de ela estar sempre na "frente" da neurociência. Se a neurociência
pudesse explicar todos os problemas comportamentais e sugerir
formas de tratamento, então não haveria necessidade de psicologia.

Mas a neurociência demora muito para descobrir coisas, basicamente
porque o cérebro é muito complexo e também porque ela faz isso
usando o método científico por completo. Isto é trabalhoso, mas
garante resultados sólidos.

Se alguém falar, por exemplo, que o neurônio é um mecanismo de
soma linear, haverá um monte de gente *provando* que ele não é.
A psicologia adora propor modelos e teorias, mas não tem costume
de prová-los (em muitos casos, isto nem é possível). Quando ouço
alguém falar de uma teoria psicológica qualquer, costumo fazer
o teste da "fadinha do dente": será que a fadinha também poderia
ser uma boa forma de explicar o que está sendo proposto? Em
geral, a fadinha é igualmente crível (ou igualmente não
falsificável).

Abraços

_______________________________________________________
Sergio Navega
http://www.intelliwise.com/snavega

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From: Juliane Silveira Lima <9710791@cirrus.unisinos.br>
>
> O que é a "fadinha do dente", Sérgio?
>
> juliane


Juliane,
Você ainda não tem filhos, certo? :-)

Quando os dentes de leite caem, alguns pais falam para
a criança colocar o dente que caiu embaixo do travesseiro
que a "fadinha do dente" (tooth fairy) vem durante a noite
e deixa para a criança um presentinho. Meu garoto de 9 anos
já não acredita mais em fadinha, ele sabe que somos nós, mas
mesmo assim ele 'convenientemente' evita conversar sobre isso
conosco, pois os presentinhos ainda estão chegando...

Falei da "fadinha" (misticamente poderosa) para colocar um
exemplo de uma explicação igualmente implausível para certas
coisas preconizadas por certas 'psicologias'.

Essas coisas, aliás, tem tudo a ver com a grande maioria dos
misticismos que tanto estão em moda e que tanto vendem jornais
e revistas neste país: dependem de crença cega e acrítica.
'Esoterismo' e 'nova-era' virou sinonimo de modernidade,
quando deveria lembrar 'medievalidade'.

Talvez um dos pontos que mais pese contra as diversas correntes
(não fundamentadas) de psicologia existentes hoje em dia seja o
fato de que são frequentemente antagônicas entre si.

Tenho um certo preconceito com teorias novas que não expliquem as
evidências antigas *antes* de tentar explicar as novas evidências.
Um dos principais caminhos da ciência sólida é justamente a tentativa
de *unificar* teorias, aumentando a abrangência e aprofundando
o poder explanatório. As psicologias tradicionais não se preocupam
em dizer porque elas estão certas e as suas concorrentes estão
erradas. Talvez justamente porque não tenham argumentos sólidos
para elaborar críticas que também não sejam aplicáveis a si mesmas.
Barbaridade, comecei falando de fadinha do dente...

Até mais,

Sergio Navega.

Ciência Cognitiva - http://sites.uol.com.br/luzardo

Otimo texto do Prof. João Teixeira. Gostaria de destacar
um parágrafo em especial:

From: Joao Teixeira <jteixe@zaz.com.br>
>[snip]
>Em outras palavras: a psicanalise antropomorfizou os processos cerebrais ao
>instituir "um outro eu" que fala nas "camadas profundas do inconsciente".
>Ora, quem disse que ha ali "um outro eu"? E que a esses processos cerebrais
>podemos atribuir uma descricao em termos de "desejos", "intencoes" etc? O
>resultado e uma enorme confusao conceitual e ao mesmo tempo um tipo de
>fascinacao produzida sobre o leitor.

Este parece ser um dos grandes pecados da psicanálise e de outras
psicologias com gosto por modelos não suportados e incoerentes. Não
parece razoável associar características mentais "sofisticadas" (como
desejos, intenções, crenças, etc) a níveis que estariam em
posição hierarquicamente inferior ao nível consciente. Ao fazer
isso, a psicanálise acaba construíndo "castelos no ar".

O que se tem notado desde que Darwin escreveu "The Origin of Species"
é que os organismos mais inteligentes e sofisticados tem uma "vida
mental" progressivamente mais sofisticada. Então, não é muito
razoável falar em "desejo" para um camundongo, mas é razoável falar
em impulso. Nesse sentido, poderiamos tentar considerar o inconsciente
freudiano como o equivalente à mente de um rato no qual as
características dominantes seriam essencialmente provenientes de
processos simples e regulares, portanto facilmente explicáveis.
Se o homem possui complexidade em seu comportamento, este não deveria
ser considerado como causado única (ou preponderantemente) pela
complexidade desses níveis "inferiores".

Sob essa ótica, Freud deveria modelar a mente humana como sendo
superposições sobre os níveis mais baixos de níveis mais
elevados, responsáveis por características mais sofisticadas,
estas sim as que fomentariam diretamente a complexidade e
imprevisibilidade do comportamento.

Num primeiro momento, nesses níveis superiores, teriamos os
desejos, as intenções e as crenças justificadas, coisas que só
encontramos nos homens e em alguns primatas próximos. Num segundo
momento teriamos a compaixão, o altruísmo e outras características
mais sofisticadas que provavelmente devem muito também a
condições culturais e ambientais.

O que me parece é que Freud inverteu um pouco as bolas, colocando
muita complexidade nos níveis mais interiores de seu modelo. Dessa
forma, não há como "unir" essa teoria com o restante do que se
conhece de biologia, psicologia evolucionista, neurociência, etc.
Freud, obviamente, não teve acesso a muita informação que temos
hoje, mas os freudianos modernos deveriam prosseguir no trabalho de
maturação e correção de seus modelos. Parece que isto não acontece
e o que se tem é um bando de "fiéis" seguidores do antigo "mestre".

No aspecto puramente cognitivo, que é a minha "seara", hoje dividimos
os processos mentais basicamente em conscientes e inconscientes, tendo
estes últimos importante papel, principalmente no relativo a formas
inconscientes de aprendizado. Este último aspecto (ligado a uma
disciplina chamada de Implicit Learning) é um de meus preferidos,
pois consegue sugerir muito do que estaria por trás dos mecanismos
computacionais (informacionais) ligados à cognição humana.

Sergio Navega
http://www.intelliwise.com/snavega


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